Não se engane, essa calma é
aparente. Andei atravessando dores tão sofridas que precisei diminuir o ritmo,
isso tudo é uma tentativa de regenerar o coração.
Amar você assim, tão
desmedidamente, põe-me a prova do existir em todos os momentos.
Delírios, verdades e
contradições. E quando os sonhos me elevam, logo após alguma felicidade
vem a verdade, caprichosamente me lembrar a sua existência tão real em outras
vidas, jamais na minha, nunca nela, mesmo sendo tão sua.
E tudo parece conspirar como
justificativa. O amor está longe de se tornar justo.
Apenas chega, invade,
transborda, toma tudo para si... Confunde razão e coração.
Meu coração... Recolho os seus
milhares de cacos, sempre uma vez mais.
E quando a noite chega,
embrulho-me em um papel de estrelas... E apenas neste momento, torno-me o
presente que queria ser, apenas pela liberdade do sentir...
Sozinha e solitária, mas, sem
culpas ou julgos...
Porque as estrelas calam e
esse agrado me é doce. Permitem o alimento à esta vida que nunca soube ser,
sempre naufragada em sentires tão avessos, inapropriados, às vezes indigestos,
noutras sedentos por qualquer coisa que não reflita carência e solidão.
Eu, em meio ao papel de
estrelas, abraçada e ouvida, momentaneamente aceita e, por isso, em
paz!
Tantas noites em segredo
beijei os dois lados de sua face, a fronte, lábios e coração...
Nesse meu sentir inteiro e
faminto... Cicuta e absinto.
Quantas noites frias, aqueci o
seu lado da cama, depois lhe envolvi com o cobertor energizado pelo sol do dia,
perfumando o seu corpo com cuidados, deixava o chá na cabeceira, bem ao lado
das páginas que lhe fazem suspirar... Coloquei-me discretamente ao seu
lado, querendo e não ser sentida, mas sempre implorando ao céu que o melhor
conforto lhe envolvesse.
Quantas noites de calor quis
ser a brisa que lhe tocava a pele, num campo ou jardim que agradasse os seus
sentidos e os conduzissem ao prazer de se sentir queimar, na verdadeira febre
do amor... Tantas noites acendi pirilampos e derrubei estrelas do céu,
convidando-lhe a mergulhar em seus sonhos mais secretos.
E apesar da grandeza das
noites, sempre amanheceu... Há beleza nisso, mas também, alguma violência.
Mesmo quando os sonhos em
stand by, ainda assim, todas as minhas dúvidas se acalmam na certeza de que
esse sentimento, é bom, verdadeiro e para sempre seu.
Não há no mundo um ser que conheça
o tamanho de minha paz e a profundidade de meus conflitos.
Mas sempre sigo, às vezes
solitária, noutras com o mundo nas costas e você sempre protegido e
guardado no coração, como uma prova para a minha fé, num constante desafio de
posse, onde sempre perco, a cada novo despertar.
É quase que constante o
sangrar, nele, a dor, o amor, as ausências, os planos natimortos, os sonhos que
elevam e a verdade que subtrai.
Mas, nada disso importa, desde
que você esteja bem e verdadeiramente feliz, mergulhado num mar de
possibilidades. Numa vida longa e feliz.
Enquanto a mim, vou vivendo
com os meus impossíveis, tendo como descanso o prêmio de alguns sonhos.
Embrulhando-me em papel de estrelas, espero um dia alcançar o céu, numa viagem
em desaviso.
lumansanaris
02-03-14
Imagem:
Google