​"Cabe-nos a tarefa irrecusável, seriíssima, dia a dia renovada, de - com a máxima imediaticidade e adequação possíveis - fazer coincidir a palavra com a coisa sentida, contemplada, pensada, experimentada, imaginada ou produzida pela razão." Goethe​

ADIANTE


Invento um verso
pros inversos que me cobram
alguma atenção.

Porque também me distrai
preencher pequenos
espaços que se confundem e
não se permitem caber.

Tento o equilíbrio
dos [contras]tes de uma alma
de alcance celestial, 
atrelada a raízes humanas
que me voltam,
ao chão.

E tenho a mania
de acreditar que vivo mais,
se em doação,
talvez por esta razão,       
vez ou outra, contra[rio-me] tempo
suficiente para mais uma
lição.

Sigo, insistentemente,
sobrevivida, nem tanto
na imensidão e, nem tão
presa assim ao chão.

Talvez uma intenção de asas
em planos de abismos
que me deixam sempre,
irremediavelmente,
um tanto mais, preparada.


               Imagem: Google


EPITÁFIO



Não contei o tempo, mas nunca antes uma dor havia demorado tanto para se anunciar dentro de mim. Talvez, naquele momento, tenha havido um desligamento dos nervos, não sei bem.
No começo me parecia uma gripe, um pequeno chiado. Eu não chorei. Também não tive dificuldade em dormir, mesmo tendo abandonado os remédios... Talvez por isso, o sono não me foi muito tranquilo... Tive sonhos confusos, pesadelos horríveis, febres, algumas dores e calafrios.
Também vieram os vômitos... E foram tantos que muitas vezes acordei só para isso.
Perdi a conta das vozes que calei, que não quis ouvir porque a dor da confirmação me parecia absurda. Eu não pensava, apenas seguia. 
Nos momentos em que podia olhar para mim, tratei de ir separando as minhas partes e, muito foi totalmente descartado. 
Estranhamente não tive medo algum, apenas fui tentando organizar mesmo algumas partes, sem raciocinar muito.
Várias vezes pedi em oração que o choro me viesse, mas os anjos não se ocupam muito de quem tem culpas... Por elas sim, eu sofri diariamente.
Escarnou-me ver o quão pouco havia me tornado. Os caminhos escolhidos e abandonados... 
Senti que, de repente, um enorme nada invadia onde o tudo, por tanto tempo, havia habitado... E a profundidade desse ferimento decretou a morte de algumas das minhas fés e do pouco que me restava de inocência. 
Eu podia me ver como que em coma... Tudo o que havia crido e vivido sendo arrancado de mim... Quis esfacelar o próprio crânio, para não ter mais que fugir do pensar.
Uma negação profunda, mas calma. Mesmo nos momentos mais destrutivos, não me reconhecia pela tranquilidade... Eu não parei para sentir, apenas segui... E apesar de tudo, havia alguma paz... A paz docemente me sussurrava “mais um pouco Mara, só mais um pouco, um pouquinho mais...”
E de pouco em pouco e com muito trabalho, segui... E também fui um pouco feliz. 
Quando sentia que a dor ia acordar, eu a desligava, não a ouvia.
Apenas a sensação de me sentir gripada, todos esses dias... Perguntavam-me e eu dizia que ainda era a gripe.
Mas hoje não! Hoje não havia resposta, nem algum motivo aparente, muito pelo contrário, hoje eu deveria ter sorrido mais, mas invés disso, busquei isolamento e chorei. 
Hoje eu chorei... Tanto, tão sentida e profundamente que desejei que o mundo todo chorasse comigo... Pensei que não fosse dar conta, o meu único medo foi o de não dar conta do choro!
E em determinado momento percebi que aquilo me velava e não havia mais o que fazer. Talvez por isso, também tenha desejado o choro de todos, não para aliviar o meu choro, mas sim, para me fazer cortejo. Para que, de uma só vez, todos vissem e compreendessem que aquela Mara, havia partido... E que nada mais, nunca mais seria como antes.
E dentro de mim, fiz essa viagem... Eu aceitei a morte... Dei descanso a quem fui.
Tudo feito com calma e paz. Mesmo nos piores momentos, aquele dilúvio me foi como que um salmo de despedida. 
Ensaio nesse relato, a minha lápide. 



              Imagem: Google


DESAFIO

Fui desafiada pela amiga Vanessa, do Blog Bonequinha de Luxo 
para responder 20 questões, repassando-as para 3 amigos.
Desculpem-me, prefiro não repassar. Seguem minhas respostas.

1-  O que lhe é indispensável ao sair de casa? 
  Protetor solar.

2-  Qual o seu perfume favorito?
 Kenzo Amour.

3- Prefere saltos ou rasteiras? 
Saltos.

4- Cor favorita? 
Verde.

5- Qual sua flor favorita? 
Lírios.

6- Qual seu hidratante favorito? 
Neutrogena.

7- Você come fast food? 
Vez ou outra, sou ovo lacto(muito chata) prefiro comida caseira.

8- Um medo? 
Perder as pessoas que amo.

9- Motivo de orgulho? 
Minha filha.

10- Uma mania? 
Milhões... A pior, esmaltes.

11- Um prazer? 
Acordar antes do sol para correr, as últimas horas da noite 
são incrivelmente habitadas de boas energias.

12- Uma saudade? 
Nossa, muitas. Mas a falta da Layka ainda me engasga, às vezes sangra. 
Ela era uma pastora alemã. Esteve comigo nos piores momentos da minha vida 
e também no melhor. Amava me ouvir cantar, dormia com o som do violão, 
roía as unhas do meu pé, amava nadar e sempre tinha um bichinho de pelúcia 
que era extremamente cuidado por ela... Ela era muito delicada.

13- Uma lição? 
Perder.

14- Uma decepção? 
Não conseguir mais chorar quando estou triste.

15- Qual seu animal favorito? 
Cães e cavalos (sinto uma ligação absurda) não consegui escolher um só.

16- Você coleciona alguma coisa? 
Cristais com imagens religiosas. 

17- O que você está vestindo agora? 
Macacão jeans e casaco (sou friorenta).

18- O que você está ouvindo agora?
Preferindo o silêncio. A última música que ouvi foi Vide Cor Meum.
  
19- Quais seriam suas férias dos sonhos? 
Um chalé nas montanhas, sem relógio ou qualquer tecnologia, 
com muitos animais soltos a minha volta.

20- O que é viver?  
Acho que viver é dividir-se. Doar e receber. Equilibrar-se.
Na verdade, não sei bem.

***
Obrigada Vanessa, espero que as respostas tenham ficado a contento.
Meu carinho. 


POEMA DE LÍQUIDAS PENAS


                                O teu riso é brisa
                                Que me livra da alvura
                                 Ressequida,
                                 De uma folha.

                                ...Inquietação de asas,
                                Sob a pena de um poema
                                Que faz brotar
                                Linhas, que são ninhos
                                A receber palavras,
                                Que são ramos e flores.

                               ...Primavera que me viaja
                                Úmida, fértil e perfumada
                                Nos melhores deslumbramentos,
                                Sóis e luas, de um céu,
                                Qu'eu já havia esquecido e
xistir
                                Dentro de mim.

                                O teu riso me é orvalho
                                Que cintila o talho

                                De um poema, que a[pena]s
                                Confidencia, sedes...

               Imagem: Google

I P U Ã

Moldei porções de beijos
na forma de teus lábios, amor,
em línguas que se revelam
somente ao Braille das nascentes...

Dediquei-te, singularmente,
uma leitura que extingue 

a pluralidade de nossas águas 
que motivam, deliciosas fontes
de intransferíveis culpas.

E também me descobri,
 misticamente culpada, pela criação 
de um mundo geográfico 
à tua boca de amparos
- aos meus confortos e inquietações -

Na propagação dos desejos 
de uma alma consentida
tão fundo, noutra alma, que 
não lhe cabe mais, o regressar.

Duas almas, que são ilhas 
em comunhão de diálogos 
e calendários, abarcados...

...Protegem-se mutuamente 
por um tudo que ainda é mais, 
muito mais que a[mar].


Imagem: Tumblr
*Ipuã - Ilha
[Em Tupi Guarani "água que brota da terra"]

UM QUASE NADA DE ELEGIA SOBRE A MORTE


Ah, que dia lindo hoje...
- Hoje? Hoje é dia da morte!
Os vasos serão floreados
As flores arqueadas
E um nome estará gravado
Em faixas de sedas...

 Dia de morte não é um dia qualquer!
Pois que os vivos conseguem ser reunidos
Num único espaço, dispostos a um abraço
E alguma consolação...
Se possível e também por educação
Um café... Biscoitos... Tem pão?

Risadas engolidas a seco,
Graças a uma maldita-boa piada
Tão bem contada, ao lado.
[Faz-se de conta que nada se ouviu
e permanece calado.]

Afinal, seria desagradável rir
Enquanto o morto permanece deitado(?)
Santificado por meia dúzia de gatos pingados
Que debruçados ao caixão,
Sentem-se perdoados
Pelo que não fizeram, em vida.

...O tempo que não tiveram
Nem ao menos para um cigarro
[E não por medo de morrer
de doença adquirida pelo vício. Não]
Mas pelo vício das posses 
Que preenchem os seus egos, bolsos e mãos.

Ah, mas hoje não... 
Em dia de morte, 
O ego descobre que tudo é mera ilusão,
Os bolsos trazem lenços
E as mãos, vão-se a terra
No último momento de despedida
[Três medidas em cima do caixão]

Despedem-se... E voltam para o seu lugar.
Afinal, o mundo é dos vivos!
- Com alguns intervalos reservados
Aos mortos -

Ah, mas morto que é realmente bom,
Volta junto e vivo, 
No coração...


Imagem: Tumblr
PS.: Faltou mencionar destilados e Wifi, liberados.

[RE]COMEÇO


Um sonho-futuro nos velou
Enquanto crescíamos em razões e asas 
Que, calmamente, amanheciam cada um 
Dos nossos silêncios e espaços.

E mesmo que sem perceber, fomos
Deixando uma semente em cada vão
D.e.s.p.e.r.c.e.b.i.d.a.m.e.n.t.e
Tornamo-nos capazes de seguir, além...

Hoje, somos um só fruto [amadurecidos]
E o que antes nos era vertigem,
Agora é vastidão...

Despertados para um novo tempo,
Muito mais amigo, completamente
 Absolvidos pelo destino-menino.


              Imagem: Tumblr

OCEÂNICA


Todo esse mar diante dos olhos
debruando em vagas ondas
- azuis e fartas -
avoluma-se, imaculado na orla
de tantos descansos....

Um mar inteiro, que é apenas verso
 inquieto, em penas e voo de aves 
viajantes dos tempos,
em farpas de saudades chorosas 
ao cais de tantas... embarcações.

Todo um mar em brisas cheias e alheias
a sóis e luas, e pedras e profundidades
e pérolas e areia,
e sereias que seduzem en[cantos]
enredando corações pescadores.

Todo um mar diante dos olhos
 é espelho de céu e chão de estrelas,
jardim de corais
e mansos restolhos de almas
 que lhos segreda 
murmúrios de sais.


               Imagem: Tumblr

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