​"Cabe-nos a tarefa irrecusável, seriíssima, dia a dia renovada, de - com a máxima imediaticidade e adequação possíveis - fazer coincidir a palavra com a coisa sentida, contemplada, pensada, experimentada, imaginada ou produzida pela razão." Goethe​

FASES


Mais cedo pensei que todo pranto fosse 
uma súplica de amor...

Tardou... E nenhuma sombra 
"desse sol" me alcançou.

...Ainda esse canto de águas
nas calhas dos olhos
...uma ave no peito 
e uma sede infinita de marés...

...Talvez o amor seja só
um barco de sonho naufragado
no mar infinito das estrelas...

...E amar seja o despertar, que repousa
 - onde e como - ninguém mais...

...Enquanto as tempestades
apenas um descuido 
nas rotas da lua. 


                Imagem: Google 

CONEXÕES


Depois do caos
qualquer mínima existência
inaugura
algum milagre e paz

Pois que tudo
o que realmente importa
é íntimo do subjetivo


...Tudo o mais é breve
assim como os dias e noites
nunca são iguais


Nem mesmo a alma que está
em constante descoberta
preenche a totalidade
de seu universo


Talvez o expandir seja
este diluir-se,
infimamente, em todos
os elementos


Buscando novos,
com sorte, torna-se
o seu próprio
autor
mestre
e aluno

E em tudo deixa
alguma - ainda que mínima -
medida de eterno.


              Imagem: Google


C A I S


Nunca é tarde num cais
e se vens, aventuras em mim,
a mística de tua chegada

E todas as minhas águas
sujeitam-se em ondas de rezas
de faróis e sorte

Chegas, distinto
apontando às asas dos mastros
com teu riso
de pássaro, a proa

Sabendo-te absolvido
dos momentos em que navegaste
- a saudade e fogo -
cada um dos meus sulcos

Encorajando-me aos abraços
de lábios em pétalas de brisas mornas,
- sol noturno e maresia -

Alongas-te às voltas
mas é em mim que tens
a melhor das rotas
Aportas
e o teu olhar é todo porto
- eu oceano -
...Reféns d'um tempo que insiste
em nos remar.


                       Em 11/09/16
*Para Laura e Pedro/Guarujá
                   Imagem: Google



T E R R E N A


Quisera ser teu anjo
e poder celebrar
cada uma das notas
do teu nome
- sem te causar dor -

Ter acesso irrestrito
a essa imensidão de ti
- que de tão imenso –
sentenciar-me-ia
a uma lista, de delícias
in_ ter_ mi_ ná_ veis
e cuidados celestiais...

...Ser teu anjo de luz 
e sombra, também.

O mensageiro fiel
da ternura que te cabe,
mas que em mim transborda
e escandaliza,
pois que em tudo está
e sempre está
a te procurar...

E quando demoras,
condenas-me
a infindáveis equívocos
que me afastam do céu,
desoxigenam poemas 
e somam penas...

...Mas pena alguma me sussurra,
apenas os nossos passos
- de tão longas e loucas distâncias -
todas terrenas...

Quisera ser teu anjo pra poder 
caminhar no teu chão
de nuvens...

Imagem: Pixabay


Recebi este lindo soneto como interação aos meus versos, do amigo e mestre 
Jacó Filho.

ANJO SOCORRISTA

Com a alma despida em voos rasantes,
Olhos de águia, escaneando a verdade.
Sente o pecado que fere a humanidade,
Faltando-lhe Deus em veredas errantes.

Queima-se e não sente a ardente chama,
Remoendo sonhos que os tem acordado.
Grita pelo santo que já vive ao seu lado.
De repente morre, quando não reclama.

Ganha asas furta-cores e na rosa flutua.
Desarmada de pudor, faz-se nua e bela.
Um divino anjo que o livra de mazelas,

E ignorâncias, que no homem perpetua.
Vestindo esperanças, quer ser como ela,
Pra socorrer vidas que a dor desmantela.

( Jacó Filho )
Para conhecer mais obras do autor, acesse:
http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=29785

*Interação adicionada em 03/10/16

SOMENTE AO QUE FOI BOM


Insustentável saudade que treme
incandescências à pele
orvalhando rosários em rezas
de súplicas e gratidão.

E faz do espírito, um viajante
empalidecido em rotas pretéritas
do horizonte que sonha 
e habita.

E cisma de querer
mudar a marcha das nuvens,
abrindo vãos de anil que recordem 
aos anjos, o seu destino
- impedir que as distâncias
sejam eternas -

Pois que um tanto de dor insiste
em beleza e impressão 
  profundas, de um retorno 
do que nunca se foi.

...E talvez nunca se vá
- pois que não almeja tal liberdade -
Antes e sempre, o testemunho
de incontáveis voos
- esplêndidos e suaves –
de asas que trazem uma imensidão
 ao peito.

Insustentável saudade
que faz dos olhos, dois cálices 
transbordantes de razões que impeçam
a morte de certas essências.

Pois que antes, bem antes
 trocam-se os nomes
- disfarça-se a dor num riso -
e o que era saudade, 
passa a se chamar lembrança.


               Imagem: Google

FILHO DA ESPERANÇA


     
Os olhos se vendo,
consentidos de esperanças,
caminham apenas amor.

E sendo amor, enxergam
a forma mais bonita que se há de ver.

E passa a compreender, antes da fala
e crer, sem a necessidade dos altares.

É reconhecido, mansa e naturalmente,
pois que traz consigo algo sempre novo
para o que era antigo,
sempre íntimo de céu e salvação.

Acorda necessidades, mas nunca subtrai,
pois que é todo evolução,
alimenta, porque é pão
e multiplica, porque também partilha.

Sonha em si a graça do outro,
 na realidade do sempre
querer mais; ainda que tendo tudo,
sabendo o quão grande
é sua sorte.

Não conta os dias, apenas contempla
os aromas de cada estação,
coroando com paz
e crucificando com algum cuidado.

Pois que é maduro e humilde,
destes que chora todas as lágrimas do mundo
sem medo de ser ridículo, sem temer os perigos,
pois que muito maiores são os risos
e ainda maiores os seus frutos.

E se vê diante de tanto para viver,
percebendo o quanto o mundo é pequeno,
afaga-se nos braços infinitos
do mais virtuoso círculo que possa
existir.

...E o chama de família
e passa a viver por ela todos os dias
porque não há melhor justificativa,
porque não há melhor razão.

Sentindo-se integrado ao universo,
exalta paz e gratidão,
sabendo-se capacitado para vencer
todos os caminhos e desafios.

Porque sempre ganha,
ainda que tenha que perder,
na certeza da bem aventurança.

E cala querendo dizer,
porque o gesto é a melhor linguagem
e diz querendo aquietar-se
porque mais que a palavra, o timbre da voz 
pode ser a canção que afaga
e a atitude que salva.

E erra tentando acertar,
acertando na falta de intenção
e erra tentando aprender,
acertando novamente ao buscar 
de si, a melhor versão,
por sempre saber que o sempre
é construção. 


               Imagem: Google

ÁGUAS DE ÍRIS


São águas de íris
Dois rios em curso
Dissolvendo pedras.

Guardiãs de um luto
Que esvazia margens.

São vésperas de aves
No último gorjear da dor
Que lhes prende o voo.

...Libertas e desafogadas
Em acenos de asas. 

                  Imagem: Google


METAMORFOSE


Busquei na tranquilidade 
das margens de um rio, o repouso 
que em mim se fazia necessário.

Fechei os olhos para o mundo externo,
respirei pausada e profundamente.

...Encontrei muitas vozes
no meu silêncio...

Expirei as inquietações
abdicando-me das respostas
Optei pelo concreto,
o dia que hoje me fora dado.

Busquei na luz, a ampla visão
Pedi aos erros, o ensinamento
 Para as conquistas, a humildade
E às derrotas, uma segunda chance.

...Pedi ao céu, a certeza de pisar no chão
E ao chão,
um caminhar que me elevasse.

Para conviver com meus irmãos,
o saber ouvir
E para o que ouvia, o discernir
e o silêncio.

Para o que não conseguia calar,
um  verdadeiro amigo
E a ele, a minha eterna devoção 
e respeito.

Para o dia a dia, paciência.
Para a paciência, o aprendizado
E para ele,
toda a minha capacidade de absorver.

Aos demônios que me assombravam,
mostrei-lhes sua inferioridade.

Aos anjos que me acompanham,
declarei dependência.

Construí, a partir daí, um campo de paz,
uma esfera protetora.

Dei as mãos para a minha fé
fiz dela, a minha fundação
e ponto de partida.

Esvaziei-me de tudo o que era pouco
alcancei o muito, em completude.

Lumansanaris 
in Manuscritos (2011) 
- Releitura da pág 96 - 
*Imagem: Google


Real Time Web Analytics