​"Cabe-nos a tarefa irrecusável, seriíssima, dia a dia renovada, de - com a máxima imediaticidade e adequação possíveis - fazer coincidir a palavra com a coisa sentida, contemplada, pensada, experimentada, imaginada ou produzida pela razão." Goethe​

ASILOS DA EMOÇÃO


Trago o engasgo d’um verso
 maduro e tristonho 
de floradas passadas
e inocências perdidas...

um verso de memória oceânica
guardada, em redil de pedras
e labirinto de astros
 que é sangue ungido de vulcões –

um verso, que mais nada diz,
posto que é rima cansada
amanhecida, sem asas,
nos asilos da emoção.

  2016  [ Desafios do Tempo ]

imagem: Noell S. Oszvald


             

BEIJO



            
E porque tenho sede das estrelas 
do céu de tua boca,
  poetizo toda ela

...e me perco; na dulcíssima distração
de querer valsar sumos
nos gomos macios de teus lábios

...e preencher cada espaço
como a conta de um rosário que se desfia
em fervorosa devoção

-te infinito... em meu paraíso perplexo
e no esplendor da melhor lágrima
de emoção

e com zelo te oferto
essa imensa fragilidade peregrina
da eternidade do teu beijo.


Imagem: Google




O QUE EU ESPERO QUE SAIBAS



 O que eu quero que saibas
o que eu preciso que saibas

É que mesmo quando não sei
e mesmo quando já não acredito
Existes... e só 
por isso a minha existência não é menor

Porque te sei, desde muito antes
do que acredito termos sido... nós

Sei-te a existência impulsionadora
dos meus melhores sonhos
e  constantes descobertas

Sei-te na distância que separa dois corpos
ardentes em movimentos de asas

...e na força benigna do vento
que compactua com o gesto maior da vida

Sei-te como a razão que inflama de alma
  o meu mundo mais íntimo –

Sei-te os gestos movidos por luz
e até as palavras espinhos,
que me fazem mais flor

 tua dor   que rezo para que não seja 
mais profunda que este medo meu   
e a alegria, que só se completa em ti
quando alcança outros, além...

 Sei-te muito maior do que penso
  Universo pelo qual se levantam
constelações – corações!
Desde o teu primeiro tempo
até a claridade do teu infinito

E é por isso, que eu preciso que saibas
que mesmo quando eu não sei
e mesmo quando eu não acredito

Só por te saber, herdei a graça de ter
diminuído os perigos dos meus abismos

E ainda que isto não some nada, 
à tua vida, 
Saber-te; salvou a minha. 
                         


            Lucy Mara Mansanaris
       Imagem: Google


NATUREZA COMUM


                              E porque gestava tempestades no peito,
                         contorcia transbordamentos,
                         trovoando distâncias e luminescências, 
                         despropositais...

                              Os pés valsavam estrelas
                         e lágrimas; temperamentais,
                         navalhando o útero de seu chão
                         em forçado parto, 
                         trazendo à luz, um relâmpago.

                              Comovida, sobremaneira,
                       
 com a fragilidade de seu mundo repleto
                        e profundo de milagres 
                        - recém nascidos -

                              Vida e morte - as mais legítimas -
                         orbitavam consigo
                         num uni_verso pulsante
                         de ingênuas liberdades 
                         - germinantes - 


          Imagem: fine_art



Fui informada que algumas pessoas estão tendo dificuldade em publicar os seus comentários.
*Também não consegui ao tentar postar este aviso no comentário, espero que seja apenas um bug temporário e que logo seja resolvido.

Gratidão por cada olhar.

VAZÃO


Empresta-me os teus olhos
pois que os meus, estão mortos

São dois cadáveres em posse
de mil almas acorrentadas
por dúvidas que acreditam
estar em teus olhos, a resposta.

Empresta-me o norte de teus faróis
pois que uma imensidão me tomou

Mil horas em tantos naufrágios
que avistavam o sonho do outro lado 
à margem de encontros marcados
ainda na origem de nossos ancestrais.

Empresta-me o consolo dos afagos 
porque trago mil prantos ou mais

Ocultados por mil medos, temporais
cúmplices de tua condenatória falta
imposta; naquele fatídico dia em que 
pela tua ausência, eu morria.


                           Em 2016
 Imagem: monica devenan

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