​"Cabe-nos a tarefa irrecusável, seriíssima, dia a dia renovada, de - com a máxima imediaticidade e adequação possíveis - fazer coincidir a palavra com a coisa sentida, contemplada, pensada, experimentada, imaginada ou produzida pela razão." Goethe​

SOMENTE AO QUE FOI BOM


Insustentável saudade que treme
incandescências à pele
orvalhando rosários em rezas
de súplicas e gratidão.

E faz do espírito, um viajante
empalidecido em rotas pretéritas
do horizonte que sonha 
e habita.

E cisma de querer
mudar a marcha das nuvens,
abrindo vãos de anil que recordem 
aos anjos, o seu destino
- impedir que as distâncias
sejam eternas -

Pois que um tanto de dor insiste
em beleza e impressão 
  profundas, de um retorno 
do que nunca se foi.

...E talvez nunca se vá
- pois que não almeja tal liberdade -
Antes e sempre, o testemunho
de incontáveis voos
- esplêndidos e suaves –
de asas que trazem uma imensidão
 ao peito.

Insustentável saudade
que faz dos olhos, dois cálices 
transbordantes de razões que impeçam
a morte de certas essências.

Pois que antes, bem antes
 trocam-se os nomes
- disfarça-se a dor num riso -
e o que era saudade, 
passa a se chamar lembrança.


               Imagem: Google

FILHO DA ESPERANÇA


     
Os olhos se vendo,
consentidos de esperanças,
caminham apenas amor.

E sendo amor, enxergam
a forma mais bonita que se há de ver.

E passa a compreender, antes da fala
e crer, sem a necessidade dos altares.

É reconhecido, mansa e naturalmente,
pois que traz consigo algo sempre novo
para o que era antigo,
sempre íntimo de céu e salvação.

Acorda necessidades, mas nunca subtrai,
pois que é todo evolução,
alimenta, porque é pão
e multiplica, porque também partilha.

Sonha em si a graça do outro,
 na realidade do sempre
querer mais; ainda que tendo tudo,
sabendo o quão grande
é sua sorte.

Não conta os dias, apenas contempla
os aromas de cada estação,
coroando com paz
e crucificando com algum cuidado.

Pois que é maduro e humilde,
destes que chora todas as lágrimas do mundo
sem medo de ser ridículo, sem temer os perigos,
pois que muito maiores são os risos
e ainda maiores os seus frutos.

E se vê diante de tanto para viver,
percebendo o quanto o mundo é pequeno,
afaga-se nos braços infinitos
do mais virtuoso círculo que possa
existir.

...E o chama de família
e passa a viver por ela todos os dias
porque não há melhor justificativa,
porque não há melhor razão.

Sentindo-se integrado ao universo,
exalta paz e gratidão,
sabendo-se capacitado para vencer
todos os caminhos e desafios.

Porque sempre ganha,
ainda que tenha que perder,
na certeza da bem aventurança.

E cala querendo dizer,
porque o gesto é a melhor linguagem
e diz querendo aquietar-se
porque mais que a palavra, o timbre da voz 
pode ser a canção que afaga
e a atitude que salva.

E erra tentando acertar,
acertando na falta de intenção
e erra tentando aprender,
acertando novamente ao buscar 
de si, a melhor versão,
por sempre saber que o sempre
é construção. 


               Imagem: Google

ÁGUAS DE ÍRIS


São águas de íris
Dois rios em curso
Dissolvendo pedras.

Guardiãs de um luto
Que esvazia margens.

São vésperas de aves
No último gorjear da dor
Que lhes prende o voo.

...Libertas e desafogadas
Em acenos de asas. 

                  Imagem: Google


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