- Hoje? Hoje é dia da morte!
Os vasos serão floreados
As flores arqueadas
E um nome estará gravado
Em faixas de sedas...
Dia de morte não é um dia qualquer!
Pois que os vivos conseguem ser
reunidos
Num único espaço, dispostos a um
abraço
E alguma consolação...
Se possível e também por educação
Um café... Biscoitos... Tem pão?
Risadas engolidas a seco,
Graças a uma maldita-boa piada
Tão bem contada, ao lado.
[Faz-se de conta que nada se ouviu
e permanece calado.]
Afinal, seria desagradável rir
Enquanto o morto permanece deitado(?)
Santificado por meia dúzia de gatos
pingados
Que debruçados ao caixão,
Sentem-se perdoados
Pelo que não fizeram, em vida.
...O tempo que não tiveram
Nem ao menos para um cigarro
[E não por medo de morrer
de doença adquirida pelo vício. Não]
Mas pelo vício das posses
Que preenchem os seus egos, bolsos e mãos.
Que preenchem os seus egos, bolsos e mãos.
Ah, mas hoje não...
Em dia de morte,
O ego descobre que tudo é mera ilusão,
Em dia de morte,
O ego descobre que tudo é mera ilusão,
Os bolsos trazem lenços
E as mãos, vão-se a terra
No último momento de despedida
No último momento de despedida
[Três medidas em cima do caixão]
Despedem-se... E voltam para o seu
lugar.
Afinal, o mundo é dos vivos!
- Com alguns intervalos reservados
Aos mortos -
Ah, mas morto que é realmente bom,
Volta junto e vivo,
No coração...
Volta junto e vivo,
No coração...
6 comentários:
Não há morte enquanto houver amor pela pessoa que já está debaixo da terra.
Um excelente poema, gostei muito.
Bom fim de semana, Lucy Mara.
Beijo.
LU:
Na maioria das vezes a tua arte inata é expressa através do que se convencionou rotular de prosa poética. Não gosto de rotular poesia. Cada um faz aquilo que sabe aquilo que ouviu da alma. A poesia mostra algo ou não mostra nada. Sei que a forma usada por ti é das mais difíceis, máxime porque dificilmente neste estilo, digamos assim, raramente os autores não se repetem. Tu não... Mudas constantemente, com a facilidade dos gênios, o tema sem sair do esquema e sem se repetir.
Neste adentrastes por um caminho dos mais espinhosos. Falar da morte, da vida, e, do respeito à entrada na vida pelo berço , e a sua volta à ela pelo túmulo...
É bem isto o que vemos, comas exceções de sempre, nas despedidas (apenas um até logo mais, penso) aos que se vão...
Usando da difícil estratégia do sarcasmo brilhante e crítico para nos falar das “desimportancias” e do desrespeito que damos em reuniões que tais, desnudastes a realidade , sempre escondida entre lamentos , também com as exceções, raras, de sempre...
Brilhante o teu poema. especialíssimo.
Um forte abraço e a admiração de sempre
Nelson
Quanta generosidade Nelson, obrigada!
Quis sair do comum, a morte é muito particular a cada um, fiz com o intuito de crítica mesmo, aos vivos. rs...
Meu carinho e gratidão.
Lucy, essa sua facilidade com as letras me encanta!
Muita sagacidade e humor para tecer lúcidas críticas, encerrando com a delicadeza e doçura que lhe são únicas!
Esplendoroso querida poetisa, aplaudindo em pé!
Parabéns uma vez mais.
ps:Encontro-me encantada com a leitura de Digitais, um esmerado trabalho de uma alma sensível e sábia, bom demais te-lo comigo e ainda poder gozar do acesso as novas inspirações! Sucesso menina querida, você merece!
Olá
Li o seu poema e encontrei nele um misto de sensações.Adorei
Voltarei-fiquei seguidora
Se me quiser visitar, agradeço. Obrigada
Bom fim de semana. Beijo
http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/
Boa tarde, Lu. A tua poesia é sempre encantadora e neste contexto, é profundo o teu sentir delineando a transitória matéria humana, a consciência das meras ilusões e a crença no perpétuo mundo espiritual. Formular uma poesia de tristeza com um quê hilariante, como você o fez, é obra somente para exímios poetas e poetisas. Receba os meus parabéns, querida. Bom domingo e que a semana que se inicia lhe seja profícua em alegrias e paz. Afetuoso abraço.
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