Hoje senti saudade da visão
clara e desprendida que me permitia descobrir galáxias, trazendo para perto as
menores estrelas, as mais delicadas, sempre quis tê-las.
Absolutamente tudo me parece
muito transitório, o riso e o choro da alegria, presos num momento de magia,
curtem-se e se encurtam a cada momento, enquanto que na dor, o recolhimento e
as lágrimas, muito mais salgadas se provocadas pela falta de amor.
E mesmo em meio a este
redemoinho de sentimentos, os meus olhos permanecem ressecados, turvos,
gelados, confusos e emaranhados entre o ser e o sentir, as verdades e as
mentiras.
Saudade das ilusões que me
adoçavam, a nudez dos sentimentos que mais parecia uma prece, ainda que nunca
tenha somado nada a quem eu teria dado tudo se pudesse.
Tudo é muito transitório e por
isso, nesse momento, os meus olhos parecem úmidos, mas talvez seja só o vapor
do café que descansa na xícara ao lado.
Tudo é muito transitório
mesmo... A temperatura do café não resistiu a hemorragia de meus dedos e
esfriou... Para falar a verdade, o café gelou, semelhante ao estado de
meus olhos ainda nas linhas acima.
Então fecho as cortinas,
prendendo as estrelas lá fora, pois as maiores já tem donos e as menores nunca
serão minhas.
E nesse último segundo,
vejo-me nessa última tentativa de adormecer em silêncio, antes que a noite se
acabe, mas a lembrança dos que já se foram me invade, então invoco deles a
assistência, sabendo-me ser vigiada a cada segundo, talvez por isso, nem tudo
no mundo seja desamparo.
Entrego os meus caminhos, as
minhas verdades e erros, entendendo que talvez nunca mereça o céu, sabendo-me
bem menor até que a menor de todas as estrelas.
Está tudo bem, eu sabia os
riscos que corria... Suicidei sim a minha alma, mas na culpa de cada ato, a
certeza do amor.
Burrice minha, que mesmo
sabendo das transitoriedades da vida, insisti no propósito de
alimentar/construir/cativar/ algo que durasse, que se bastasse apenas por ser
verdadeiro.
Amanheceu... E as horas do dia
não me servem à poesia, então vou em busca de mais um café que me desperte para
a vida, desejando profundamente que nunca mais anoiteça e que o cansaço
adormeça as minhas mãos, ignorando completamente as digitais que compõem o
meu coração.
lumansanaris (letras do
esgoto)
Imagem: Google